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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Às escuras por uma noite.

Às escuras. Foi assim que passei o meu serão ontem à noite. Não via um palmo à frente do nariz. Andei às voltas à procura de uma vela, por mais pequena que fosse. Do telemóvel nem sombras, não me lembrava onde o tinha posto. Quanto ao computador, estava sem bateria. Por fim, depois de derrubar algumas coisas pelo caminho, encontrei um vela pequenina e uma caixa de fósforos. Quis acende-la mas só à terceira vez é que irrompeu uma pequena chama que serviu para me orientar. Sentei-me à espera que voltasse a luz. Pensei que era algo temporário, mas não. Foi uma falha de electricidade que demorou a recompor-se. Após um momento de espanto, peguei na pequena vela e procurei uma maior. Não tardaria que aquela apagasse. Encontrei por fim o que achei ser a vela ideal e pude ver melhor o aposento. «E agora?»- pensei. «E se eu visse um filme para descontrair? E se eu jogasse um jogo no computador? E se eu fosse até ao meu blogue escrever um bocadinho? E se fosse até ao facebook? E se eu...»Mil e uma coisa pensei mas nada disso pude fazer porque sem electricidade não seria possível. Até porque o computador nem tivera tempo de carregar o suficiente para que pudesse ser utilizado. Desiludida, estendi a mão para ligar o meu rádio. «Pelo menos se ouvisse música o tempo passava mais depressa.» Pensei, para me arrepender no minuto seguinte. Também o rádio estava ligado à corrente. «E se eu lesse um livro?» Reflecti por fim.« Mesmo com uma pequena vela sou capaz de ler qualquer coisa. É isso mesmo que vou fazer.» Primeiro certifiquei-me que a porta e a janela se encontravam bem vedadas. Sem a acção do meu aquecedor, o ambiente ficara mais frio. Agasalhei-me bem e escolhi o melhor livro possível para ler naquele ambiente fantasmagórico a meia-luz. Escolhi pois, o livro: "Os Senhores do Universo e o Milagre de Fátima", de Fernando Alagoa. Em boa hora o fiz porque foi como se o tempo voasse dentro de uma atmosfera indescritível. A história prendeu-me do princípio ao fim. Senti que caminhava lado a lado com as personagens. Findo o livro, apenas uma chamasinha minúscula fazia as honras da casa. Soprei-a para a apagar e embrulhei-me qual chouriço gigante dentro da minha cama. Adormeci. Quando acordei estava na Serra de Mira de Aire e Candeeiros. As grutas estavam agora mais perto. O Santuário de Fátima aparecia e desaparecia. E eu estava petrificada sem me conseguir mover. Não percebia porque estava eu alagada em suores frios. Tentei acender a luz, mas esta não cedeu. Irrompeu então o som de um cavalo ao longe. Lá vinha ele a galope. Tive a certeza que tinha de fugir. No entanto, estava paralisada. D. Afonso Henriques vinha lá a galope num cavalo qualquer. Devia vir à procura dos pergaminhos que lhe tinham roubado. Abordou-me com aspereza ao que respondi por entre lágrimas, que não tinha sido eu. Ele não acreditou em mim. Abanou-me com força para que eu falasse a verdade. Mas a verdade era essa. Eu só soube por causa do livro. «É isso!» - Exclamei entusiasmada. - «O livro de Fernando Alagoa, é a prova de que preciso. Ele está aqui.» Avancei às apalpadelas procurando o exemplar. Não o encontrei. De repente percebi tudo. Os Senhores do Universo tinham-no levado. «E agora?- Pensei. Nesse momento a luz voltou e eu acordei com um ar aparvalhado. Parecia uma menina pequena com pesadelos. Afinal estava tudo bem. Não estava ali nem o cavalo, nem o Rei de Portugal, nem sequer os Senhores do Universo. Não passara tudo de um sonho devido à  influência das minhas leituras. A culpa foi do escuro. Ler a meia-luz pode surtir este efeito. Misturas entre a realidade e a ficção. Mas valeu a pena. Disso não tenho quaisquer dúvidas.


1 comentário:

Unknown disse...

Sem luz, por aqui joga-se às cartas, normalmente. Ler é muito custoso para uma míope como eu!