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quarta-feira, 31 de outubro de 2018

A mistela da bruxa

Pegou num caldeirão largo e fundo
e deitou-lhe frescas especiarias 
salsa, coentros, hortelã e alho
E misturou tudo com um chocalho.

Ao refogado juntou
pozinhos de perlimpimpim
e ainda um pezinho de jasmim.
Mas não descansou.

Quis ainda o seu coração
que juntasse uma pitada de medronhos
para dar voz aos sonhos
que misturou com seu condão.

Deixou ferver por meia hora
o grande caldeirão sagrado
e foi fazer uma sesta
que muito era do seu agrado.

Junto à lareira quentinha
no conforto da sua vassoura
ficou a nossa bruxinha
a sonhar com o seu amor.

No entanto, o preparado
fez-lhe uma travessura.
Deitou por fora o refogado
e deixou o chão em mísero estado.

Ela não se deu por achada.
Levantou-se de rompante
pegou na sua fiel vassoura
e limpou tudo num instante.

E prendada como era
pegou noutra panela
e voltou a fazer nova mistela.
Nunca vi bruxa tão persistente como ela.

Jovita Capitão, Rainha das Insónias.