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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O sinal do lobo

É madrugada.
Lá fora, o silêncio é cortado
pelo latir dos cães.
Estão ansiosos.
Parecem receosos
Quem os cala?
Ninguém.
Apenas o silêncio
intensifica o uivar.
Agora apenas uivam ao luar.
Parecem lobos a salivar.
Encolho-me na minha cama
e fico a pensar
naquilo que terão os cães.
O que os agita?
Questiono eu, aflita.
Levanto-me devagar.
Arranjo coragem
e à janela vou espreitar.
O medo intensifica-se
dentro de mim.
Parece que o coração vai-se soltar.
Bate tão forte, mas meu desejo é observar.
E vejo no céu escuro o luar
que me visita todas as noites.
A atmosfera é fascinante!
Porém, aterradora.
Os uivos pararam.
Os latidos também.
Só o silêncio continua
cortado pelo vento
que começa a assobiar.
Fico parada.
Observo da janela
e eis que vejo uma ninhada
de pequenos lobos
famintos
sedentos
dentro de um olhar de lua
a olhar para mim.
Os seus olhos pedem ajuda.
Eu respondo ao apelo acenando.
Não me reconheço.
De repente já não tenho medo.
Sinto-me forte.
Abro a janela de par em par
e saio para o lado de fora
para os ajudar
nem sei bem como
nem porquê.
Mas sigo atrás da ninhada
de uma forma tola.
Caminho agora como eles
de gatas.
Como se fizesse parte da matilha.
De repente
Ouço um gemido
depois um uivo
depois um latir aflito.
Levanto-me e sigo atrás dos lobos
que começam a correr.
Procuro-os
mas não os vejo.
Apenas os ouço na escuridão.
Começo a tremer.
Está frio.
Curiosamente não tenho medo.
Esfrego os olhos.
Reparo que estou com sono.
Mas longe de casa, para onde vou?
Observo à minha volta.
Encontro uma gruta
e dirijo-me para lá.
Está escuro.
Já não vejo nada.
Entro.
Tacteio no escuro e sento-me
à espera que algo aconteça.
Fecho os olhos.
Abro-os outra vez.
Um lobo frente a frente comigo.
Quero gritar, mas não consigo.
O silêncio é o que nos distancia.
Um pequeno gesto e deito tudo a perder.
Ninguém se move.
O lobo também parece esperar.
De repente afasta-se.
Perplexa grito:
Espera!!!
O lobo volta-se em direcção a mim.
Parece querer atacar.
O pânico apodera-se do meu corpo.
Já não me sinto.
Tento falar, mas a voz é inaudível.
Ele prepara-se para um salto.
Fecho os olhos e temo o pior.
Volto a abri-los.
Está escuro.
Acendo a luz.
O coração está ofegante.
Do lobo nem sinais.
Era a minha imaginação a funcionar.
Talvez um sonho que me veio visitar.
Ou seria um sinal do velho lobo?

Jovita Capitão, Rainha das Insónias.

Se eu conseguisse dormir...

Se eu conseguisse dormir
conheceria novos horizontes,
talvez altos montes ou pontes
que viessem a surgir.

Se eu conseguisse dormir
mil cores eu veria
na simples fantasia
de quem adormece a sorrir.

Se eu conseguisse dormir
estaria mais tranquila,
num prado ou numa pradaria,
ou onde me fosse inserir.

Mas eu estou bem acordada.
Tenho a alma lavada.
Mas não consigo dormir.

Jovita Capitão, Rainha das Insónias.

A Mosca

A mosca entrou pela janela
e recusou-se a sair.
Está quente aqui! - Disse ela,
enquanto olhava para mim.

Assustei-a, enxotei-a
mas ela não fugiu.
Venceu-me pelo cansaço
que entretanto surgiu.

Deixei-a ficar, por fim.
Porque me faria mal?
A coitada só tem frio...

Começamos então a conversar
E ela contou-me a sua história.
A sua vida estivera por um fio.

Com um mata-moscas gigante
muitos quiseram mata-la!
E ela só queria fugir...

Por fim,
Encontrou a minha casa
e não tinha para onde ir.

Tanta pena tive dela
que acabei por adoptá-la.
Chamei-a de Cinderela.
pois, sonhadora, já era ela.

Jovita Capitão, Rainha das Insónias.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A Mosqueteira Desajustada!

A Mosqueteira ajustou a saia
que tão desajustada estava.
Mas ao subir para o cavalo
a desajeitada perdeu um botão.

Desceu do cavalo e procurou
com o coração a palpitar
o famoso objecto
que precisava apertar.

Naquele caminho de terra
a moura não viu tal
pois desajeitada como era
este rolou para o matagal.

E agora pobre Mosqueteira,
onde vais guardar a espada?
Pensou a nossa guerreira
um tanto preocupada.

Deixou o cavalo para trás
e seguiu a pé de cabeça baixa.
Pensava que com paciência
lá encontraria "a bolacha".

Três passos para a esquerda,
mais três para a direita,
encontrou um sapato.

Mas que coisa é esta?
Que sorte me resta?
Será isto um assalto?

O Sapato moveu-se na sua direcção.
Assustada deu para trás um passo
e caiu no chão.

Embevecida,
percorreu com o olhar
o dono do sapato.
Sua aparência divina
era de um aparato!!!

Apaixonou-se de imediato pelo bonitão!
E foi assim que a nossa Mosqueteira
se esqueceu da própria saia
e do seu desaparecido botão.

Jovita Capitão, Rainha das Insónias.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Trabalho é Liberdade - reflexão

O nosso trabalho deve ser a expressão daquilo que somos. Se não nos sentimos bem em determinado lugar, como podemos ser criativos e dar o nosso máximo? Nunca conseguiremos ser felizes em lugares de escravidão, servidão, monitorizados pelo medo. O medo é uma arma poderosa. Mata aos poucos quem se escraviza por ele. O medo rouba-nos os sonhos, tira-nos a paz e a alegria. E sem alegria, muito dificilmente vamos fazer um bom trabalho. O nosso trabalho deve ser a expressão daquilo que somos no sentido de proporcionar aos outros uma agradável surpresa e de proporcionar a nós mesmos uma enorme satisfação pessoal. Trabalho não é escravidão. Trabalho é Liberdade!