Hoje tive a surpresa de encontrar uma daquelas pessoas que marcaram a minha vontade de escrever quando ainda andava na escola. Encontrei uma das minhas professoras de Língua Portuguesa, a Paula Simões, conhecida na escola como "a chinesinha" devido à fisionomia oriental. Paula é uma pessoa dinâmica, alegre, parece feliz, e nota-se que gosta do que faz. Já não a via há muitos anos. Há pelo menos vinte. Perguntou-me sobre o meu percurso profissional. Falei-lhe da minha escrita, do meu blogue e do meu livro. Aquele que está prestes a sair, embora com um "parto" difícil, pois tem apenas três meses de conhecimento geral, embora tenha sido concebido ao longo de quinze anos.
Depois da conversa que tivemos, o meu coração envolveu-se numa dança de soluços que pareciam não ter fim. A saudade era imensa. Um luto que nunca fiz pois, achava que seria sempre pequenina. Afinal cresci, não vi o tempo passar. E a saudade corrói todo o meu ser numa mistura de dor e prazer.
Mas é tão bom recordar! E chegando a casa vasculhei todas as gavetas onde ainda guardo essas fotografias perdidas no tempo. Fotografias de outro tempo. Procurei uma onde Paula Simões se encontra, mas não encontrei. Com o tempo as coisas perdem-se. Mas as memórias não se perdem. Essas ficam cá dentro e culminam com o dom da lágrima. Uma lágrima saudosa que ilumina todo o meu ser.
É tão bom recordar! Quando as memórias que temos são as melhores, é difícil acordar desse estado de êxtase mental. A vontade de permanecer assim é infinita. Gostava de lá voltar nem que fosse apenas por alguns segundos. Gostava de voltar a ouvir o som característico daquela sala de aula. O lindo som da campainha da entrada. Aquela que anunciava o contacto com o saber. Aquele cheirinho fantástico dos Manuais acabadinhos de comprar. O vasculhar dos materiais nas mochilas. Os fechos das mesmas a abrir e a fechar. A voz da professora a fazer a chamada e o som inconfundível do giz no quadro preto. No sumário escrevia: "Composição". E eu pegava numa folha de papel vazia do meu dossier cor-de-rosa e começava a escrever. O silêncio pairava no ar. Por vezes interrompido pelo burburinho dos mais faladores que não aguentavam aquele silêncio constrangedor. E que bendito silêncio. Para mim era do que de melhor havia naquela escola habitualmente barulhenta.
São apenas recordações. São apenas saudade. Mas são também memórias que me marcaram e que me fizeram ser o que sou hoje.
Jovita Capitão, Rainha das Insónias.
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