A lua espreitou. A Janela mal fechada deixou entrar também a luz ténue do candeeiro da rua. Ele adormeceu profundamente ao meu colo e eu após uma longa indecisão pu-lo finalmente na cama ao meu lado. Fiquei imóvel durante algum tempo a pensar nas preocupações do dia a dia. O silêncio invadiu a casa e o meu espírito. O negrume da vida entristeceu-me. Deixei-me levar pelo sofrimento e uma imensa vontade de chorar veio ao de cima. Respirei fundo. Tentei soerguer-me para limpar as lágrimas que já vinham a caminho. Olhei para o rosto do meu filho, iluminado pela ténue luz do candeeiro da rua. Dormia serenamente. Pensei em levantar-me já que a falta de sono estava a incomodar-me. Nem me ergui. Assim que me movi o seu choro inundou todo o espaço. Voltei a pegar nele, embalei-o de novo, coloquei-o na cama e respirei fundo com receio que a minha simples respiração o acordasse. Felizmente o som não foi suficientemente sólido para que tal se concretizasse. Aliviada, levantei-me devagar. Tapar o estômago pareceu-me a única resposta viável. Fui até à cozinha. Abri a porta do único electrodoméstico que dá acesso ao paraíso. Passei os olhos pelo conteúdo. Iogurtes, um pacote de leite já aberto, sopa, algumas caixas de alimentos com restos de ontem, legumes. Optei por leite quente com café. Sei que não devia ter escolhido a cafeína naquela hora mas a vontade foi mais forte. Agora estou aqui de olhos abertos a escrever o que me vai na alma. E de olhos abertos vou continuar enquanto o sono não vem ou até o meu pequeno acordar de novo para sorver o néctar da vida.
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