Realidade irrefutável

Tenho medo. Sim, tenho medo do que vai acontecer em Maio, em Junho e nos meses seguintes. Estou deveras preocupada com o futuro. Dizem que o pior já passou, mas quem é que acredita nisso? Eu, não. Quando o estado de emergência for levantado, quem é que vai tranquilo para a rua? Eu, não. Vamos voltar à vida normal? Têm a certeza? Eu, não. Sinto uma angústia enorme só de pensar no que ainda vai acontecer. Não costumo ser tão pessimista, mas o estrago que este vírus já causou é uma realidade irrefutável. 

Dualidade mental

Às vezes sinto-me perdida
como se estivesse
num barco à deriva
em maré alta.

Outras vezes
a esperança invade
os meus pensamentos
acabando com os tormentos
que eu própria criei.

Jovita Capitão, Rainha das Insónias.

Tempos incertos

Dizem que já há luz

no fundo do túnel.

Mas eu acho que ainda há

um longo caminho a percorrer.

O mundo já não é o que era.

Tudo o que resta são rostos cansados,

personagens por muito tempo confinados,

muito embora com vontade de vencer.

Mas a vida já não vai ser igual

e quem assim não pensa está enganado.

Não vai ser fácil voltar ao normal

pelo menos o normal que conhecemos.

As circunstâncias mudaram.

A nossa forma de estar mudou.

Muitos infelizmente se finaram

para tristeza de quem cá ficou.

Está na hora, sim, de nos levantarmos

mas à cautela, se possível à janela,

sabendo que a humanidade

ainda não acordou.

Jovita Capitão, Rainha das Insónias.

Conversa com um caracol em estado de confinamento

-Olá caracol
o que estás tu a fazer?
-Estou com os corninhos ao sol
para os aquecer.

-O que fazes tu fora de casa?-
-perguntei eu tão ingénua.
-O mesmo que tu mas eu estou em vantagem.

A minha casa é já aqui
levo-a para todo o lugar.
Acaso podes tu fazer essa viagem?

-É verdade caracol.
Não posso andar com a casa às costas.
E ainda bem. Já viste o peso que era?

A tua casa é pequena.
Leve como uma pena.
Parece uma casa de bonecas.

Espera aí!...eu estou mesmo a conversar com um caracol?
Ai que este confinamento está a dar-me cabo da mioleira!

Jovita Capitão, Rainha das Insónias.

A centopeia

Vi um animalejo às três da manhã.
Estava na parede da minha cozinha.
Assustei-me, mas não não me movi.
E fechei os olhos a ver se desaparecia.

Abri-os de novo e lá estava ela.
Uma lacraia de cem pernas.
Tentei ignorá-la mas não consegui.
Sem saber qual o perigo representado
ali mesmo permaneci.

Ela moveu-se de repente
e olhou-me de frente.
Decerto que a acordei.
A luz deve tê-la encadeado.

Num piscar de olhos desceu a parede,
aos trambolhões alcançou o chão
e foi esconder-se atrás de um garrafão
de água acondicionado.

Foi a minha vez de fugir.
Também eu a sete pés
corri e da cozinha desapareci
fechando a porta atrás de mim.

De volta à cama não pude deixar de pensar
no que aquela espécie de lagarta estaria a tramar.
Estranhamente consegui adormecer
e felizmente de manhã não a tornei a ver.

Jovita Capitão, Rainha das Insónias.

A noite - stereossauro

Queridos leitores e amigos da Rainha, ando completamente viciada nesta música. Não sei por que motivo, mas o ritmo é fenomenal.

Boa Semana, que inicia já amanhã!