Há um olhar diferente sempre que passa mais um ano.
Há uma carga cada vez que passa por mim mais uma Primavera. Por cada Inverno conheço o fel da vida, tal como o favo de mel que se esconde nos sentidos. A cada ano, vejo as folhas da vida cair no esquecimento, dando espaço às finas linhas que compõem o meu rosto. Há um olhar diferente cada vez que me olho ao espelho. Não sei que expressão utilizar. Fico imóvel, apenas à espera que a vida volte um pouco no tempo. Talvez à espera que um pequeno milagre se mostre interessado em mim. Passo a mão nos cabelos já finos, passo a mão na pele cansada, sinto que já não sou a mesma. Porém, sei que a mesma sou. A consciência ainda não foi embora.
Marco no meu caderno mais uma data. Fixo o olhar no espelho aguardando a mudança que não acontece. Pergunto o por quê da minha existência e o por quê de ter de ser assim. Perdida em numerosos pensamentos, nem me apercebo que já escureceu. Olho lá para fora, a neblina que me devora é a mesma que me consola. Debruço-me na janela fechada. Num ápice abro-a de par em par para reflectir sobre a vida.
Sonhos! Penso que os sonhos demoram a chegar. Estão perto, mas longe do meu olhar. Mais um pouco de esperança move-me naquela direcção. Mas de um momento para o outro, com a bruma se esfumarão.
Suspiro, sozinha no meu quarto. Sei saber qual será o próximo passo. Vale a pena acreditar nas pessoas? Vale a pena o esforço, se o sentimento anda vazio? Valerá a pena ser algo que não eu, para no final das contas sofrer sozinha na lei do abandono?
As lágrimas caem de forma veloz. Às vezes parece que estamos sós!
( Excerto de qualquer coisa. Talvez isto, um dia saia da gaveta e faça sentido num livro)
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