Nunca saio de casa sem o meu caderno, salvo raras excepções. Por hábito, nas minhas viagens para a Capital Portuguesa, dedico-me à escrita. Escrevo o que me vai na alma, o que for relevante para esse dia. Considero importante este relevo imediato, este sentir que relato. A escrita lapida lentamente a minha mente qual diamante em bruto. Ao partir, procuro pormenores da vida quotidiana, quer seja minha quer seja das pessoas à minha volta. Acho graça aos olhares indiscretos que pairam sobre mim numa curiosidade tão desconcertante que me desconcentra. Olho em redor, observo a rua lá fora, a paisagem,... sinto o ambiente e retorno ao meu caderno com mãos de vidente, mãos de veludo, mãos de ironia, mãos de sabedoria, mãos de amor. Nada fica por contar. Nestes momentos surgem indagações sobre a vida, sobre o futuro, sobre mim, sobre os outros. A escrita flui com um fio condutor que só acaba perto do destino. Ao longo do meu percurso vou empenhada na minha tarefa e alheada do mundo real penetro no mundo da fantasia. Realço os personagens com os retratos que permanecem à minha volta. Retratos de um mundo normal,... ou talvez não. Cada rosto conta uma história. Basta apenas tentar imagina-la através dos sentidos. Um mendigo que pede esmola, que talvez até seja Professor, uma criança chorosa que não imagina o bem que tem por ter nascido em "berço de ouro", uma mulher quase reformada que não sabe qual será o seu futuro amanhã, um estudante que só pensa em emigrar, um senhor reformado, com ar pachorrento, a ler no jornal diário sobre o último jogo de futebol, um estrangeiro que se entretém a ler o roteiro de Lisboa, para saber a estação exacta onde tem de sair. Todos os rostos contam histórias e não são poucas! Cada vez que entro no autocarro ou no Metropolitano, deixo-me levar pela força das palavras. Gosto de viajar por outros mundos e outros saberes através dos meus próprios sentidos.
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